A Dialética da Fidelidade sob a Sombra da Ingratidão
Dói — e dói em profundidade ontológica — perceber que a tessitura da fidelidade humana não é, por si só, escudo contra a corrosão da inveja.
Mesmo quando caminhamos em servitium fidelis, rendendo ao próximo o melhor de nossa integridade, ainda assim podemos ser alvo da energia entrópica daqueles que, incapazes de reconhecer o valor alheio, respondem com a devastação silenciosa da ingratidão.
Na lógica teológica, isso revela um paradoxo: a virtude não imuniza contra o golpe; antes, expõe o justo ao campo de provas onde o caráter é refinado.
Na filosofia, isso ecoa a tensão socrática entre a areté (virtude) e o olhar ressentido do outro, que não suporta aquilo que não consegue reproduzir.
E, nas ciências humanas, encontramos a constatação de que toda relação humana é um encontro de sistemas simbólicos — e onde há luz, há sempre a possibilidade da sombra projetada.
A ingratidão, nesse sentido, funciona como uma espécie de “agente corrosivo espiritual”, uma patologia da alma que busca destruir aquilo que não compreende.
Mas o fiel, mesmo ferido, permanece irrestrito ao chamado maior:
seguir servindo, mesmo quando traído;
seguir íntegro, mesmo quando falsificado pelo olhar do outro;
seguir elevado, mesmo quando tentam reduzi-lo às ruínas.
Pois, no fim, como nos ensina a Escritura, “o Senhor é galardoador daqueles que O buscam” (Hb 11.6), e não existe sombra humana capaz de eclipsar o brilho daquele que permanece firme na verdade.
Que cada golpe recebido se torne matéria-prima para uma fidelidade ainda mais indestrutível.
Pense Nisso!
Cezar Junior Gomes
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