Ande com o pé quebrado, mas não deixe marcas de suas mãos no ombro de ninguém
A vida espiritual é marcada por feridas,
tropeços e cicatrizes invisíveis. O caminhar humano, muitas vezes, é manco,
semelhante ao de Jacó após lutar com o Anjo do Senhor (Gn 32.31). Há dores que
não se ocultam, há fragilidades que não se disfarçam; todavia, a nobreza do
espírito se revela não quando o crente exige que outros carreguem o peso de
suas chagas, mas quando, mesmo ferido, escolhe não ferir.
Andar com o pé quebrado é admitir a limitação,
é reconhecer que nem sempre se pisa firme, que o trajeto da existência pode ser
doloroso. Contudo, não deixar marcas das mãos no ombro de ninguém é lição de
maturidade: significa recusar o comodismo da dependência exploratória,
significa não projetar sobre o próximo o fardo que cabe a nós administrar. A
Escritura afirma: “Cada um levará a sua própria carga” (Gl 6.5). Há um
peso que é individual, intransferível, pedagógico, parte da escola da fé.
Não se trata de negar a comunhão ou desprezar
o auxílio mútuo, pois a mesma Palavra também nos convoca a “levai as cargas
uns dos outros” (Gl 6.2). Mas há diferença entre a solidariedade espontânea
e o abuso sistemático da benevolência. O cristão maduro entende: compartilhar
dores é legítimo, manipular a piedade alheia é deformidade espiritual.
Portanto, que o discípulo de Cristo aprenda a
caminhar mesmo mancando, sustentado pela graça invisível, sem que suas mãos
imprimam marcas pesadas nos ombros dos irmãos. Porque a fé autêntica não
consiste em transferir as dores, mas em transfigurá-las em testemunho; não em
buscar sempre quem carregue, mas em aprender a prosseguir mesmo com o pé
quebrado rumo à eternidade.
Pense Nisso!
Cezar Jr Gomes
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