10 de março 2018

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sexta-feira, 22 de agosto de 2025

O Livro do Êxodo

 O Livro do Êxodo: Entre Memória, Teologia e História

O livro do Êxodo, segundo livro do Pentateuco, ocupa lugar central na constituição da identidade teológica, cultural e histórica de Israel. O termo “Êxodo” deriva do grego exodos (ἐξοδος), que significa “saída” ou “partida”, aludindo diretamente ao evento da libertação dos hebreus da escravidão egípcia. Este relato não apenas descreve um episódio histórico-religioso, mas também estabelece paradigmas que atravessam toda a Escritura, servindo de fundamento para a compreensão da redenção e da aliança.

Estrutura e Conteúdo

O livro pode ser dividido em três grandes blocos narrativos:

1. Libertação do Egito (Êx 1–15) – Relata a opressão sofrida pelos hebreus, o chamado de Moisés e a intervenção divina por meio das pragas, culminando no êxodo e na travessia do Mar Vermelho.

2. Jornada pelo Deserto (Êx 16–18) – Descreve a peregrinação inicial, as murmurações do povo e o sustento provido por Deus, como o maná e a água da rocha.

3. Aliança e Instruções no Sinai (Êx 19–40) – Narra a teofania no Sinai, a entrega da Lei, a construção do Tabernáculo e a consolidação da identidade cultual de Israel.

Essa estrutura revela um movimento de libertação, constituição e habitação divina no meio do povo.

Teologia do Êxodo

O tema central é a salvação por intervenção divina. Javé se revela como o Deus que “ouve o clamor” (Êx 3:7) e age em favor dos oprimidos, desafiando a ordem imperial egípcia. Assim, o êxodo é ao mesmo tempo ato redentor e julgamento contra os deuses do Egito (Êx 12:12).

Outro elemento essencial é a aliança. O episódio do Sinai (Êx 19–24) inaugura a relação jurídica e litúrgica de Israel com Javé, sintetizada nos Dez Mandamentos. Aqui, a libertação do Egito é a base ética da obediência: Israel não serve a Faraó, mas ao Senhor.

A presença de Deus no Tabernáculo (Êx 25–40) representa a culminância teológica: o Deus que liberta é também o Deus que habita no meio do seu povo.

Dimensão Histórica e Simbólica

Ainda que o evento do êxodo suscite debates historiográficos entre estudiosos – seja visto como relato histórico literal, memória coletiva ou tradição teológica elaborada –, sua função literária e teológica é inequívoca. O texto constrói uma narrativa fundante, na qual Israel se reconhece como povo liberto e consagrado.

A simbologia do êxodo transcende o Antigo Testamento e reaparece na literatura profética (Is 40–55), nos Salmos (Sl 78; 105–106) e, sobretudo, no Novo Testamento, onde Cristo é visto como o novo Moisés, inaugurando um êxodo escatológico (Lc 9:31; 1Co 10:1–4).

Considerações Finais

O livro do Êxodo é mais do que registro histórico; é matriz teológica que sustenta a fé judaico-cristã. Ele articula libertação, lei e presença divina, revelando um Deus que se compromete com a história humana e redefine as estruturas de poder e culto. Na tradição cristã, o êxodo é interpretado como figura da redenção em Cristo, reafirmando que a verdadeira liberdade não se limita à política, mas culmina na comunhão com Deus.


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