10 de março 2018

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Hybris e Kenosis: um Olhar Filosófico-Teológico Pentecostal sobre a Cegueira do Orgulho

Título: Hybris e Kenosis: um Olhar Filosófico-Teológico Pentecostal sobre a Cegueira do Orgulho

Na tessitura da existência humana, o orgulho e a vaidade apresentam-se como patologias espirituais de caráter corrosivo, cuja natureza já foi perscrutada tanto pela filosofia quanto pela teologia. A tradição grega nomeou esse fenômeno como hybris, isto é, a arrogância desmedida que conduz o sujeito a ultrapassar seus próprios limites ontológicos. Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, já advertia que o vício da altivez infundada distancia o homem da verdadeira areté (virtude). Platão, por sua vez, em A República, denunciava que a alma que se deixa dominar pela vanglória perde a capacidade de contemplar o Bem em sua pureza transcendente.

Na tradição cristã, Agostinho de Hipona definiu o orgulho como a massa superbiae, raiz de todos os pecados, por meio da qual a criatura usurpa o lugar do Criador, convertendo-se em um simulacro de divindade. Lutero, em sua crítica à curvatio in se ipsum (o homem curvado em si mesmo), mostrou como a vaidade impede a abertura para a graça. Jonathan Edwards, expoente do avivamento norte-americano, já alertava que o orgulho espiritual é o mais sutil dos pecados, por revestir-se de aparência piedosa enquanto nega a dependência de Deus.

A teologia pentecostal clássica, herdeira do testemunho neotestamentário, enfatiza a kenosis de Cristo (Fp 2.5-11) como paradigma da verdadeira grandeza: a descida, o esvaziamento, a entrega sacrificial. Paulo, em sua exortação aos coríntios, recorda que "quem te distingue? E que tens tu que não tenhas recebido?" (1Co 4.7). A soberba, portanto, é não apenas erro moral, mas heresia ontológica, pois nega a economia da graça que estrutura toda a realidade redimida.

Na dimensão comunitária do pentecostalismo, onde os dons do Espírito são distribuídos "a cada um, como lhe apraz" (1Co 12.11), o orgulho é uma afronta direta à soberania do Espírito Santo. Aquele que se julga "o homem do momento", o centro de todo êxito, incorre em idolatria do ego e reduz a comunhão à sombra de seu narcisismo. O que não reconhece quem o ajudou, cedo ou tarde desperta para uma colheita amarga: a decepção de perceber que sua autossuficiência era uma miragem.

A advertência bíblica é clara: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16.18). O orgulho fabrica narrativas em que todos os críticos são “invejosos” e toda conquista é apenas fruto de mérito pessoal. Contudo, a colheita desse semeio é inevitável: solidão, frustração e a dolorosa percepção de que se acordou tarde demais para agradecer, honrar e reconciliar.

Somente a humildade — aquilo que Kierkegaard chamaria de “ser diante de Deus” (at være for Gud) — restitui ao homem a verdadeira visão: a consciência de que todo êxito é graça partilhada, e que o ápice da vida cristã não é o trono do ego, mas a cruz do Cordeiro.

Pense nisso!

Cezar Jr gomes

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