Título: Hybris e Kenosis: um Olhar Filosófico-Teológico Pentecostal sobre a Cegueira do Orgulho
Na tessitura da existência humana, o orgulho e a
vaidade apresentam-se como patologias espirituais de caráter corrosivo, cuja
natureza já foi perscrutada tanto pela filosofia quanto pela teologia. A
tradição grega nomeou esse fenômeno como hybris,
isto é, a arrogância desmedida que conduz o sujeito a ultrapassar seus próprios
limites ontológicos. Aristóteles, em sua Ética
a Nicômaco, já advertia que o vício da altivez infundada distancia o homem
da verdadeira areté (virtude). Platão, por
sua vez, em A República, denunciava que a
alma que se deixa dominar pela vanglória perde a capacidade de contemplar o Bem
em sua pureza transcendente.
Na tradição cristã, Agostinho de Hipona definiu
o orgulho como a massa superbiae, raiz de
todos os pecados, por meio da qual a criatura usurpa o lugar do Criador,
convertendo-se em um simulacro de divindade. Lutero, em sua crítica à curvatio in se ipsum (o homem curvado em si
mesmo), mostrou como a vaidade impede a abertura para a graça. Jonathan
Edwards, expoente do avivamento norte-americano, já alertava que o orgulho
espiritual é o mais sutil dos pecados, por revestir-se de aparência piedosa
enquanto nega a dependência de Deus.
A teologia pentecostal clássica, herdeira do
testemunho neotestamentário, enfatiza a kenosis
de Cristo (Fp 2.5-11) como paradigma da verdadeira grandeza: a descida, o
esvaziamento, a entrega sacrificial. Paulo, em sua exortação aos coríntios,
recorda que "quem te distingue? E que tens tu que não tenhas
recebido?" (1Co 4.7). A soberba, portanto, é não apenas erro moral, mas
heresia ontológica, pois nega a economia da graça que estrutura toda a
realidade redimida.
Na dimensão comunitária do pentecostalismo,
onde os dons do Espírito são distribuídos "a cada um, como lhe apraz"
(1Co 12.11), o orgulho é uma afronta direta à soberania do Espírito Santo.
Aquele que se julga "o homem do momento", o centro de todo êxito,
incorre em idolatria do ego e reduz a comunhão à sombra de seu narcisismo. O
que não reconhece quem o ajudou, cedo ou tarde desperta para uma colheita
amarga: a decepção de perceber que sua autossuficiência era uma miragem.
A advertência bíblica é clara: "A soberba
precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda" (Pv 16.18). O
orgulho fabrica narrativas em que todos os críticos são “invejosos” e toda
conquista é apenas fruto de mérito pessoal. Contudo, a colheita desse semeio é
inevitável: solidão, frustração e a dolorosa percepção de que se acordou tarde
demais para agradecer, honrar e reconciliar.
Somente a humildade — aquilo que Kierkegaard
chamaria de “ser diante de Deus” (at være for
Gud) — restitui ao homem a verdadeira visão: a consciência de que todo
êxito é graça partilhada, e que o ápice da vida cristã não é o trono do ego,
mas a cruz do Cordeiro.
Pense nisso!
Cezar Jr gomes
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