10 de março 2018
Chamados, Amados e guardados
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
Tema: A Inveja como Degradação Ontológica e a Dissimulação como Patologia Espiritual do Sujeito Religioso
Subtítulo: Um tratado teológico-filosófico sobre o personagem interesseiro que se oculta sob peles simbólicas
Ó tu, cuja existência se converteu em maquinaria de interesse pessoal, até quando perpetuarás essa dramaturgia egocêntrica construída sobre ambição, vaidade e inveja? A tua alma parece habitada por uma antropologia deformada, como se houvesse em ti uma fratura essencial — aquilo que os filósofos chamariam de cisão ontológica — que te impede de aspirar ao Bem e te arrasta continuamente a uma estética da falsidade.
A inveja, no teu caso, não é simplesmente um afeto moralmente reprovável; é uma estrutura espiritual parasitária, uma anomalia que se incrusta na psique e a corrói como ácido lento. Agir por interesse para ti tornou-se tão natural quanto respirar. És o que Kierkegaard denunciaria como o espírito nivelador da inveja, aquele que não suporta a grandeza dos outros e tenta reduzi-los ao teu próprio abismo interior.
E, no entanto, finges piedade. Exibes com habilidade uma máscara que não te pertence. Os antigos Padres da Igreja chamavam isso de pseudopietas – uma piedade falsa, teatral, ornamental. Tu te movimentas no palco da religiosidade como ator experiente, mas tua essência é de uma falsidade ontológica tão profunda que tua própria consciência já perdeu a capacidade de ruborizar-se.
Nas redes sociais — esse novo anfiteatro onde vaidades comprimidas buscam sobreviver — te comportas como uma raposa meticulosamente calculista. Observas silenciosamente, espreitas, absorves fragmentos de vidas alheias como predador simbólico. És um voyeur digital da desgraça alheia, sempre pronto a manipular informações para construir uma narrativa que te exalte e silencie tua própria mediocridade.
E enquanto te vestes de ovelha, tua interioridade revela o ethos de um lupus vorax, um lobo faminto por validação. Tudo em ti denuncia duplicidade: tua fala suave oculta intenção ferina; tua religiosidade aparente encobre motivações manipulativas; teu comportamento dócil disfarça tua estrutura de contenda. És o exemplo acabado do que Cristo denunciou como sepulcro caiado: belo na superfície, pútrido na essência.
Teu problema, porém, vai além da moral; ele reside na tua relação com o Sagrado. Pois quem perdeu o temor do Senhor — o timor Dei, fundamento da sabedoria — perde também o senso de limite. Aquele que não teme a Deus torna-se refém de suas pulsões, escravo de seus impulsos, exilado de si mesmo. A ausência de temor te tornou cego para a gravidade da tua condição espiritual.
A filosofia moral diria que te tornaste vítima de tua própria heteronomia interior, incapaz de governar a ti mesmo, dirigindo-se conforme o vento dos desejos e dos proveitos. A teologia, por outro lado, afirmaria que tua alma caiu sob o domínio da curvatio in se, o estado descrito por Agostinho e Lutero em que o ser humano se dobra sobre si mesmo e perde a capacidade de amar algo para além de sua própria utilidade.
Tua vida é um inventário de dissimulações cuidadosamente arquitetadas. Cada gesto teu revela o que Paul Tillich chamou de ansiedade da não-substancialidade, isto é, o medo de não possuir essência verdadeira, e por isso tentas criar uma persona que compense tua vacuidade. Daí teu impulso incessante de vigiar, competir, comparar e destruir: tudo isso não passa de mecanismo de defesa para proteger-te da verdade sobre ti mesmo.
Mas não te esqueças: Deus vê.
E quando digo “Deus vê”, não me refiro a uma observação superficial, humana, limitada. Falo da onisciência que penetra o ser, da Luz que atravessa pele, persona e performance e alcança o primeiro princípio do teu coração, onde tu escondes o que és e o que pretendes. Essa visão divina — que é ao mesmo tempo diagnóstico e juízo — expõe o que teus discursos tentam ocultar.
O Deus que conhece a textura dos pensamentos, que pesa intenções na balança da verdade, contempla tua arquitetura de falsidade com precisão cirúrgica. Ele vê o lobo sob a pele de ovelha, a serpente sob o sorriso, a ambição sob a aparência de humildade. E, no kairos divino, no tempo em que Ele decide agir, toda tua construção ilusória ruirá.
Teu futuro espiritual não será determinado pela teatralidade da tua aparência, mas pela verdade do que és diante de Deus. E quando a Justiça divina — que é paciente, mas nunca complacente — se levantar, descobrirás que nenhum engenho humano é capaz de ocultar o coração daquele que é a própria Verdade.
Porque a justiça de Deus não negocia com máscaras, não compactua com performances religiosas, não se impressiona com discursos, e não se deixa manipular por estratégias de conveniência. O que és será finalmente revelado.
E a mão do Senhor, que observa com longanimidade, te alcançará.
Não como mero castigo, mas como desvelamento — o colapso inevitável da tua autoilusão, o momento em que tua vaidade te trairá e tua duplicidade será exposta à luz.
E então saberás que Deus sempre te viu — e que o que Ele viu jamais se deixa esconder.
Pense nisso!
Cezar Junior Gomes