10 de março 2018

10 de março 2018
Chamados, Amados e guardados

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Da Fidelidade Estéril e da Falsidade Frutífera:

Reflexões sobre a Melancolia Moral do Ser Contemporâneo


Plantar fidelidade e colher falsidade é uma das mais pungentes tragédias morais da existência humana. Tal antagonismo denuncia a crise ética de uma era em que a constância perdeu o valor de virtude e se tornou quase uma ingenuidade. A fidelidade — outrora sinal de caráter e de transcendência do eu — converteu-se em objeto de escárnio num mundo que celebra a fluidez das conveniências.


Segundo Santo Agostinho, “a medida do amor é amar sem medida”, e por extensão, a medida da fidelidade é permanecer mesmo quando o outro já se desfez. Entretanto, essa permanência — que deveria ser virtude — transforma-se em tormento quando o fiel percebe que sua entrega floresceu em terreno árido, onde as raízes da verdade não encontram abrigo. Surge, então, a dor não apenas da decepção, mas da injustiça afetiva, que subverte o equilíbrio entre o dar e o receber.


O filósofo Blaise Pascal advertia que o coração tem razões que a razão desconhece; talvez por isso o fiel insista em plantar lealdade onde já não há esperança de colheita. Mas a fidelidade autêntica não é comércio de afeições — é expressão de natureza moral, um eco da imagem divina no homem. Ela sobrevive mesmo à ingratidão, pois, como diria Kierkegaard, “a pureza do coração consiste em querer uma só coisa”: ser verdadeiro, ainda que o mundo se corrompa ao redor.


A falsidade, por outro lado, é o simulacro da virtude — uma máscara de conveniência. É volúvel como o vento das circunstâncias e sutil como a serpente do Éden. Em sua essência, ela é o inverso da fidelidade: onde esta edifica comunhão, aquela semeia desconfiança; onde uma constrói eternidade, a outra se dissolve na efemeridade dos interesses.


O fiel traído experimenta, então, uma melancolia ontológica, isto é, uma tristeza que transcende o sentimento e alcança o ser. É o lamento do justo em um mundo de duplicidades, o eco da dor de C.S. Lewis, que afirmou que “a integridade é fazer o que é certo, mesmo quando ninguém está olhando”. A fidelidade não busca testemunho, mas consciência — e é justamente essa interioridade silenciosa que torna sua dor tão profunda.


Plantar fidelidade em solo de falsidade é, paradoxalmente, um ato de resistência espiritual. É afirmar, contra o cinismo dos tempos, que ainda há virtudes que não se dobram à lógica do oportunismo. E se o fiel colhe ingratidão, ainda assim sua semente é sagrada: ela germina na eternidade, onde o Justo Juiz — e não os homens — há de recompensar cada gesto de verdade.


Pense nisso!


Cezar Jr Gomes

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