“Quando a Facada Chegou Atrasada”
Quando a facada chegou, já era tarde. Não porque o aço não
soubesse o caminho, mas porque o espírito já conhecia a dor. Há feridas que não
vêm da lâmina, mas do olhar que finge amizade enquanto prepara o golpe.
Contudo, quando o coração já discerniu o teatro da falsidade, o punhal perde o
poder de surpresa.
Eu já sabia. O discernimento é a couraça dos que caminham
com Deus. O Espírito Santo sussurra antes que o traidor se levante da mesa.
Ainda assim, não o expulsei — porque Jesus também não o fez. Olhei para o
traidor e, em silêncio, recordei as palavras do Mestre: “Amigo, a que
viestes?”.
Há um mistério nobre nessa resposta. Cristo, conhecendo o
propósito de Judas, não o chamou de inimigo. Chamou-o amigo. Talvez porque os
inimigos de fora não ferem tanto quanto os amigos de dentro. Ou talvez porque,
na economia divina, até a traição serve a um propósito redentor. O beijo que
Judas deu foi a assinatura da cruz, e a cruz, paradoxalmente, foi a vitória da
graça.
A facada chegou atrasada, porque o coração já estava
entregue. Nada fere aquele que já se sacrificou no altar da obediência. Os
golpes dos homens não doem quando já fomos crucificados com Cristo. O sangue
que escorre não é de derrota, mas de propósito.
E assim compreendi: há traições que são degraus. Há feridas
que são revelações. E há dores que não vêm para destruir, mas para consagrar. O
amigo que fere sem saber é, muitas vezes, o instrumento que Deus usa para nos
conduzir ao Gólgota, onde o ego morre e a vontade do Pai triunfa.
Por isso, quando a facada chegou — atrasada e inútil —
apenas sorri. Já não era ferida, era confirmação. E respondi, como o Mestre:
“Amigo, a que viestes?”
Pois quem anda com Deus entende — até o golpe faz parte da
glória.
PENSE NISSO!
CEZAR JR GOMES
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