10 de março 2018

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terça-feira, 14 de outubro de 2025

MACHO E FÊMEA OS CRIOU: UMA ANÁLISE TEOLÓGICA, ONTOLÓGICA E CIENTÍFICA DA DUALIDADE SEXUADA

Resumo

O presente artigo propõe uma análise interdisciplinar sobre a distinção sexual entre macho e fêmea à luz da teologia cristã, da filosofia clássica e da biologia moderna. Partindo do texto de Gênesis 1:27, demonstra-se que a diferenciação sexual é constitutiva da imago Dei e encontra respaldo tanto na metafísica teológica quanto nas evidências genéticas da biociência contemporânea. Contrapõe-se, ainda, o discurso pós-moderno que relativiza as categorias biológicas e ontológicas, substituindo a verdade por construções subjetivas. Conclui-se que a convergência entre fé e ciência reafirma a verdade imutável da criação divina: “macho e fêmea os criou”.

Palavras-chave: Teologia; Ontologia; Cromossomos; Sexualidade; Pós-modernidade.

1. Introdução


A contemporaneidade testemunha uma crescente desordem epistemológica no campo da antropologia, onde a identidade humana, antes fundamentada em bases ontológicas e biológicas, tornou-se refém de percepções voláteis e subjetivas. Tal fenômeno reflete o colapso das categorias criacionais estabelecidas pelo Criador no Gênesis.

A máxima bíblica “macho e fêmea os criou” (Gn 1:27) não constitui mera descrição zoológica, mas uma afirmação teológica de ordem e propósito. A diferença sexual, longe de ser acidental, revela um projeto divino inscrito no próprio ser.


2. Fundamentação Teológica da Dualidade Sexual


A teologia patrística e escolástica compreende a sexualidade humana como reflexo da imago Dei. Santo Agostinho, em De Civitate Dei, defende que o ser humano, criado em dois sexos, espelha a relação de alteridade presente na própria Trindade.

Tomás de Aquino (Suma Teológica, I, q. 92) afirma que “a mulher foi criada como auxiliar idônea, não pela deficiência do homem, mas pela perfeição da espécie humana, que se completa na diversidade sexuada”.

Essa complementaridade expressa a dimensão relacional do amor divino. Segundo Karl Barth (Church Dogmatics III/1), “a diferença entre homem e mulher é o primeiro e mais visível sinal do pacto de Deus com a criação”. A sexualidade, portanto, é sacramento da comunhão — símbolo da alteridade divina.


3. A Perspectiva Científica: O Testemunho dos Cromossomos


A biologia molecular corrobora a existência objetiva do binarismo sexual. O sistema cromossômico humano é composto por 23 pares de cromossomos, dos quais o par sexual define o sexo biológico: XX para o feminino e XY para o masculino.

Pesquisas em genética, como as conduzidas por Francis Collins (2006), demonstram que tais determinações são fixas e imutáveis na codificação do DNA. Mesmo diante de condições intersexuais, a análise citogenética revela o predomínio de um padrão cromossômico definido.

Portanto, a ciência moderna não destrói o relato bíblico, mas o confirma empiricamente: há, de fato, uma ordem binária estabelecida na estrutura genética da humanidade.


4. Crise Pós-Moderna e a Desconstrução da Ontologia Sexual


A ideologia de gênero contemporânea, apoiada em fundamentos construtivistas e relativistas, tenta dissolver as categorias naturais do ser.

Jean Baudrillard (1991) descreve essa era como “a era das simulações”, na qual os signos se libertam da realidade e passam a flutuar no vazio semântico.

Jürgen Habermas (1987) observa que a razão instrumental substituiu a razão comunicativa, tornando a verdade um produto da subjetividade e não da realidade objetiva.

Tal paradigma reflete, teologicamente, a antiga heresia gnóstica: a negação dos limites criacionais e a pretensão do homem de redefinir sua própria natureza.


O apóstolo Paulo, em Romanos 1:25–27, denunciou esse desvio como a inversão da verdade de Deus em mentira, resultando em confusão moral e espiritual. A pós-modernidade repete o mesmo gesto adâmico de rebelião — o desejo de ser como Deus, determinando o que é e o que não é.


5. Síntese Filosófica e Teológica da Diferença


Martin Buber, em Eu e Tu (1923), defende que o ser humano só se realiza na relação com o outro. A existência humana é dialógica, e o masculino e o feminino são expressões desse chamado relacional.

O filósofo C.S. Lewis, em A Abolição do Homem (1943), alertou para o perigo de uma sociedade que rejeita a ordem natural: “Ao tentar dominar a natureza, o homem termina dominado por sua própria desumanidade.”

A dissolução da diferença sexual, portanto, é a dissolução da própria humanidade. A liberdade desvinculada da verdade conduz não à emancipação, mas ao caos ontológico.


6. Conclusão


A convergência entre teologia, filosofia e ciência aponta para uma mesma direção: a diferença sexual é um dado da criação e não uma construção da cultura.

A fé revela o propósito da distinção; a biologia confirma sua estrutura; e a filosofia demonstra o absurdo de sua negação.

A tentativa de reconstruir a natureza humana segundo desejos individuais constitui a mais recente forma de rebelião contra o Criador.

Permanece, assim, a verdade eterna e imutável — teológica, científica e ontológica:

“Macho e fêmea os criou” (Gn 1:27).


Referências


AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus. São Paulo: Paulus, 2000.

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2001.

BARTH, Karl. Church Dogmatics III/1. Edinburgh: T&T Clark, 1958.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et Simulation. Paris: Galilée, 1991.

BUBER, Martin. Eu e Tu. São Paulo: Centauro, 2001.

COLLINS, Francis. A Linguagem de Deus: Um Cientista Apresenta Evidências da Fé. São Paulo: Gente, 2007.

HABERMAS, Jürgen. Teoria do Agir Comunicativo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 1987.

LEWIS, C.S. A Abolição do Homem. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.

SAGRADA BÍBLIA. Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.


Cezar Jr Gomes

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