A narrativa da criação, conforme o Gênesis (1:27), encerra em si uma verdade ontológica de ordem inalterável: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.” Esta sentença, de natureza não apenas religiosa, mas metafísica, postula a dualidade sexuada como expressão do próprio ser criador, cuja alteridade relacional se manifesta na complementaridade entre o masculino e o feminino.
A teologia clássica, especialmente em Santo Agostinho (De Civitate Dei) e Tomás de Aquino (Summa Theologica), compreende que a distinção sexual não é mero acidente biológico, mas parte constitutiva da imago Dei. A sexualidade humana, portanto, transcende a carne — ela é símbolo da comunhão e da alteridade que refletem a própria Trindade.
Do ponto de vista científico, a biologia molecular confirma o binarismo genético da espécie humana. O cromossomo sexual XX designa o fenótipo feminino, enquanto o XY determina o masculino. Essa codificação cromossômica, inscrita no cerne do DNA, é imutável em sua essência, resistindo a qualquer tentativa de reconstrução artificial da natureza. Mesmo nos casos de anomalias intersexuais, o genoma revela, por meios citogenéticos, a presença inequívoca de uma estrutura sexual primária. Assim, a ciência molecular — longe de refutar — reafirma o princípio divino da diferenciação sexual.
Entretanto, na contemporaneidade pós-moderna, observa-se o avanço de um paradigma relativista e construtivista que, ao dissolver as categorias ontológicas da criação, converte o ser em pura autodefinição subjetiva. O filósofo Jean Baudrillard descreve esse fenômeno como “a era das simulações”, onde os signos se emancipam da realidade que representavam. A identidade sexual torna-se, assim, um signo flutuante, desprovido de ancoragem ontológica.
Tal dissolução é também denunciada por Jürgen Habermas, que alerta para o “eclipse da razão comunicativa” em uma civilização que substitui a verdade pela sensibilidade. A teologia moral cristã vê nessa mutação cultural não apenas um erro antropológico, mas um sintoma da antiga rebelião gnóstica — a negação dos limites criacionais.
O apóstolo Paulo, ao escrever aos Romanos (1:26-27), já discernia a degeneração moral oriunda da rejeição do Criador: “mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais à criatura do que ao Criador.” Essa inversão ontológica, hoje reproduzida sob o manto da liberdade de gênero, constitui o mesmo ato de insurgência que pretende destronar Deus do centro da antropologia.
O teólogo suíço Karl Barth afirmou que “a diferença entre homem e mulher é o primeiro e mais evidente sinal do pacto de Deus com a criação.” E o filósofo Martin Buber, em sua obra Eu e Tu, acrescenta que o ser humano só se realiza na reciprocidade, e não na autossuficiência narcísica. Assim, a diferença sexual não é opressão, mas relação; não é limitação, mas vocação.
A biologia moderna — de Francis Collins a Richard Dawkins, ainda que em diferentes perspectivas — reconhece a presença de uma ordem natural inscrita na estrutura genética. A tentativa de dissolvê-la mediante artifícios ideológicos constitui, no dizer de C.S. Lewis, a “abolição do homem”: a destruição do humano em nome de uma liberdade desvinculada da verdade.
Conclui-se, portanto, que tanto a teologia quanto a ciência, embora por caminhos distintos, convergem na defesa da realidade binária do ser humano. A fé revela o propósito; a biologia confirma o designio; e a filosofia testemunha o absurdo da sua negação.
No fim, permanece a sentença eterna — não cultural, não relativa, mas ontológica e divina:
“Macho e fêmea os criou.”
E todo discurso que tenta dissolver tal verdade não é progresso, mas regressão à desordem primordial que Deus já havia ordenado pelo verbo criador.
Pense nisso!
Cezar Jr Gomes.
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