"Altares em Perigo e a Palavra Perdida: Um Diagnóstico Eclesiológico da Espiritualidade Emudecida"
Nos corredores
sombrios de uma espiritualidade corroída pela liturgia automatizada e pelo
culto à performance, ecoa um clamor silenciado: os altares estão em perigo, e a
Palavra, antes central, agora jaz esquecida dentro da própria Casa. O que
deveria ser trono de glória converteu-se em palco de vaidade; o púlpito, de
onde fluía o conselho eterno, tornou-se palanque para o ego.
Tal fenômeno,
embora revestido de aparência piedosa, é reminiscente do drama narrado em 2
Reis 22, onde, após anos de negligência sacerdotal, a Lei do Senhor foi
redescoberta dentro do próprio Templo. A revelação é, ao mesmo tempo,
escandalosa e simbólica: a Palavra estava perdida onde jamais poderia ter sido
esquecida. O Templo, suposto guardião do oráculo divino, tornara-se cemitério
de revelações.
Altares em
perigo não são apenas estruturas físicas ameaçadas por infiltrações ou abandono
arquitetônico. São representações metafísicas da fragilidade da adoração
autêntica, comprometida pelo secularismo disfarçado de liturgia. A oferta
perdeu seu sangue, o incenso perdeu seu aroma, e os olhos perderam o temor.
Oferece-se fogo estranho com vestes santas, e as mãos consagradas agora
manipulam a Palavra como retórica, não como espada.
A ausência da
Palavra — não em livros, mas no centro do ser — sinaliza a eclipse teológica do
nosso tempo. Pregações antropocêntricas substituíram a exposição reverente das
Escrituras. O culto tornou-se ensaio teatral, e a adoração, espetáculo
estético. Com isso, erguem-se altares que Deus não reconhece, pois foram
construídos para homens, não para Ele.
O altar em
perigo denuncia uma adoração desorientada. A Palavra perdida evidencia um povo
sem direção. A Casa continua cheia, mas a Glória já partiu — Ichabod. É
necessário que, como Josias, rasguemos não apenas as vestes, mas os corações.
Que choremos não por nossos projetos frustrados, mas por termos perdido a
Palavra no lugar onde ela deveria ser a única voz.
Este é um
chamado urgente, não a reformas estéticas, mas a reconstruções espirituais. A
restauração dos altares não começa com luzes, microfones e adornos, mas com
arrependimento, temor e centralidade da Escritura. A Casa deve voltar a ser
lugar de Palavra e Presença, onde o altar não é palco, mas monte santo.
PENSE NISSO!
Por: Cezar Jr Gomes
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