10 de março 2018

10 de março 2018
Chamados, Amados e guardados

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Quando o Desejo É Maior Que a Realidade: A Inutilidade dos Conselhos Diante do Coração Obstinado

        Quando o Desejo É Maior Que a Realidade: A Inutilidade dos Conselhos Diante do Coração Obstinado


Há momentos na existência humana em que o desejo se agiganta de tal forma que obscurece a percepção da realidade. O querer se torna tirano, e o conselho — ainda que sábio, múltiplo e fundamentado — torna-se inaudível aos ouvidos que já decidiram obedecer ao próprio impulso. Trata-se de uma das mais sutis e perigosas formas de cegueira espiritual: quando o coração se fecha à razão e se curva ao fascínio daquilo que deseja, não importando o custo, nem as advertências.


A Escritura não se cala diante dessa tragédia da alma. O livro dos Provérbios declara com clareza: “O caminho do insensato parece-lhe justo, mas o sábio dá ouvidos aos conselhos” (Provérbios 12:15). O insensato, contudo, não rejeita o conselho por falta de informação, mas por excesso de obstinação. Ele ouve, mas não escuta; percebe, mas não discerne; vê a verdade, mas prefere o engano que o agrada.


Esse fenômeno é bem ilustrado na narrativa do jovem rico que se aproxima de Jesus buscando a vida eterna (Mateus 19:16-22). Ele recebe o conselho do próprio Filho de Deus: vender tudo, dar aos pobres e segui-Lo. Mas o seu desejo, mais forte do que a realidade do Reino que se lhe apresentava, o fez afastar-se triste. Ele estava pronto para ouvir, mas não para obedecer. A realidade do discipulado exigia renúncia, mas o desejo o amarrava às posses.


O apóstolo Paulo, em sua segunda carta a Timóteo, adverte que virão tempos em que os homens “não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2 Timóteo 4:3). Trata-se da era dos conselhos descartáveis: não se busca a verdade, mas confirmações; não se deseja a correção, mas aplauso para o próprio querer.


Quando o desejo supera a realidade, a alma entra em colapso. Torna-se surda ao discernimento e impermeável à sabedoria. Mesmo que cercado por multidões de conselheiros, o homem que já decidiu obedecer ao seu desejo fará ouvidos moucos às advertências. Sua mente está vencida antes mesmo que o erro aconteça.


Por isso, a Escritura nos chama não apenas a ouvir conselhos, mas a submeter o coração à verdade. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” — pergunta Jeremias (Jeremias 17:9). E a resposta vem do próprio Deus: “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os pensamentos” (v.10). A cura para o desejo desgovernado não está em conselhos humanos, por mais numerosos que sejam, mas na rendição do coração ao Espírito de Deus.


Enquanto o desejo for o senhor, os conselhos serão apenas ruído. Mas quando o Espírito for o guia, até uma única palavra pode transformar um destino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário